O que é sexualidade positiva e como ela vai mudar sua vida
Existe uma revolução da autonomia acontecendo aqui e agora, vem comigo!
Lembre da sua primeira experiência sexual. Lembrou?
Quando faço essa pergunta a amigas, muitas acessam algo trágico e invariavelmente pensam na primeira penetração. Não precisa ser assim.
A minha primeira experiência sexual com outra pessoa foi com um namorado. Só de nos abraçarmos era uma emoção que muitas vezes levava ao gozo. Ficamos anos naquele esfrega esfrega gostoso. Isso é experiência sexual — e foi ótima. Já a primeira vez que fiz sexo com penetração foi terrível, tenso, estranho, nada memorável.
Aqui é importante perguntar: porque focamos nossa memória e nossa energia nas experiências ruins se existem tantas outras boas? Antes mesmo de me relacionar sexualmente com alguém eu já me auto estimulava sozinha. Aliás, auto estimulação é um termo da sexualidade positiva que substitui a tão mal falada masturbação.
Tenho pra mim, e já fiz alguns vídeos sobre o assunto, que se não conquistarmos nosso Território Íntimo, será difícil conquistar algo para além disso. O corpo, o prazer, o deleitar-se com nossos sentidos, são a primeira conquista humana. Vem antes do relacionamento amoroso, antes do trabalho, antes de tudo. A Sexualidade Positiva estimula o auto conhecimento, o domínio do próprio prazer e da energia sexual que pra mim, por exemplo, é fundamental. Eu preciso dessa energia pra criar, pra escrever, pra pulsar com a vida. E também, para me relacionar amorosamente com quem quer que seja, mas isso é o passo numero 10 — tem muitas coisas antes mais importantes e fundamentais.
Sexualidade positiva é compreender a sexualidade não como um ato sexual porque ela é muito maior e mais ampla em nosso cotidiano do que uma relação sexual. Viver a sexualidade implica em conhecer o próprio corpo. É espantoso como muitas mulheres nunca viram sua vulva e como a gente ignora essa palavra, reduzindo nossos genitais a um buraco. (Aqui também temos um vídeo excelente que mostra como o não falar sobre algo é uma excelente maneira de ignorar sua existência: No que mulheres jovens acreditam sobre seu prazer sexual) Logo, se somos um buraco, os lábios externos e internos da vulva parecem estranhos e desproporcionais, nos vendem cirurgias para adequa-los… a que mesmo? Se somos um buraco a penetração parece necessária ou natural… mas não é. Ninguém precisa de penetração pra se realizar sexualmente, nem de outra pessoa nós precisamos. Porém tudo é tão padronizado e cheio de tabus que o espectro da sexualidade humana fica reduzido a praticamente nada. Aliás, lábios externos e internos também é uma adequação para grandes e pequenos lábios — uma nomenclatura que confunde as mulheres porque eles não correspondem em tamanho a esses nomes.
E porque estou focando em mulheres aqui? Porque é justamente o foco no prazer masculino que faz com que uma média de 90% das mulheres heterossexuais sejam infelizes na relação sexual e também em sua sexualidade. Nos acostumamos com esse discurso imposto de virgindade (virgindade nem existe, veja esse vídeo maravilhoso sobre o assunto: A fraude da virgindade), com a exaltação do genital masculino e a demonização do feminino como algo nojento — até sabonetes íntimos inventam pra tratar algo que nunca foi um problema. E isso é tão absurdo que o maior órgão sexual do corpo é amplamente ignorado: a pele. Numa sociedade onde apenas a produtividade importa, nossos braços e pernas estão destinados ao trabalho e não ao prazer que acabamos por reduzir aos genitais — nada mais ilógico… e sem graça.
E aqui faço um parênteses pra dizer que com feminino e masculino quero me referir apenas aos órgãos genitais, reconhecendo que existem homens com vulva e mulheres com pênis. (Sobre isso um vídeo básico e ótimo Genero e Natureza)
O prazer sexual feminino está no corpo todo (como o masculino) e muito na região externa do genital, poucas mulheres tem prazer com penetração e tudo o que consumimos conta uma história muito diferente disso. A pornografia então nem se fala. É algo do qual nos arrependeremos muito num futuro próximo (Aqui temos uma palestra fundamentalcom a especialista no assunto Gail Dines que mostra como o consumo de pornografia implica na exploração sexual infantil)
Existem ALELUIA, iniciativas pra transformar essa forma de ver a sexualidade e dar mais autonomia as mulheres e homens, porque ambos sofremos com esta visão reducionista e deturpada. Eu faço parte de uma dessas iniciativas chamada Prazerela, uma casa de estudos e práticas sobre sexualidade feminina que trabalha em parceria com a Prazerele que tem o mesmo objetivo voltado ao público masculino.
Lá, juntamente com a fundadora da casa Mariana Stock e com a Dra Andrea Carreiro, dou aula no curso de Sexualidade Positiva para profissionais de saúde, abordando atendimento a vítimas de violência sexual, comunicação não violenta e vulnerabilidade. Estamos reunindo ginecologistas de todo o país que querem e podem mudar essa realidade no projeto Clube Gineco. Pasmem, mas sexualidade não é parte importante no estudos de ginecologistas (até agora!). Segue o depoimento de uma participante. Mais relatos e infos no inta @prazerela.
Sexualidade Positiva para Ginecologistas foi uma experiência mágica na minha vida. Difícil descrever, mas fácil de notar o que me causou para quem convive comigo. O curso foi além da teoria, foi muito mais prático. Aprendi com dinâmicas, trocas de experiência e aula. Aprendi o que realmente é a Sexualidade e o sexo de uma forma nunca falada na graduação e na residência. Compreendi a forma que devo abordar cada paciente para ela sentir-se confortável para falar o que e quando quiser sobre qualquer tema. O melhor de tudo é que foi um curso para crescimento e profundo auto conhecimento. Muito Grata a equipe Maravilhosa do Prazerela.
La também são oferecidos todos os meses cursos para mulheres. Recomendo muito o Despertar da Potência Orgástica, que é o módulo básico completamente focado em Sexualidade Positiva para qualquer mulher interessada.
Eu poderia escrever muito sobre como essa revolução está acontecendo mas por hoje é só! Me dou a liberdade de aconselhar: Conquiste seu território íntimo, ele te pertence e é a partir dessa conquista que o mundo ficará pequeno pra você!
Se você está precisando de auxílio, coordeno um grupo de apoio a sobreviventes de violência sexual com mais de 3mil participantes chamado As incríveis mulheres que vão morrer duas vezes, onde compartilhamos relatos, nos apoiamos e defendemos que esse assunto seja tratado de forma ampla e pública. Se precisar de ajuda estamos aqui.
O silêncio não contribuiu para que os casos de violência sexual diminuíssem. Uma em cada 4 brasileiras será estuprada ao longo de sua vida se juntos não mudarmos essa realidade. Conto com vocês!