6 Passos para apoiar sobreviventes*
por Patricia Castro * tradução livre do artigo 6 steps to support a survivor, da página da Fundação Joyful Heart Foudation, criada e dirigida pela atriz e ativista estadunidense Mariska Hargitay
É um ato de muita coragem para uma sobrevivente de violência sexual ou doméstica compartilhar sua história com alguém. Nunca subestime o seu poder de afetar a jornada de cura de uma sobrevivente.
Aqui apresentamos algumas ferramentas — palavras, ações e recursos — que podem te ajudar a apoiar alguém que venha a dividir alguma experiência pessoal com você.
Você não precisa ser um especialista — apenas seja você. Se alguém divide uma experiência pessoal com você, provavelmente ela ou ele veem em você alguém que pode oferecer apoio, compaixão um caminho a seguir. Ainda que você não possa desfazer o que aconteceu com aquela pessoa, você pode ser uma fonte e conforto.
1- Escute
Às vezes, voce nem precisa dizer nada (ou ao menos, não muita coisa) para apoiar alguém. Muitas pessoas relatam que poder contar sua historia para alguém diminui o peso do isolamento, do segredo, da culpa. Ouvir é por si só um ato de amor.
2- Valide
Pense em quando você se sentiu vulnerável, ou em alguma situação de crise e tente se lembrar do que mais te ajudou. É bem provável que não tenha sido uma conversa específica, mas a consciência e o conforto de saber que as pessoas para quem você contou estavam Lá por você, acreditaram em você, ficaram do seu lado e se comprometeram a te apoiaram um momento difícil. Existem algumas frases que podem mostrar ao outro que você se importa:
Eu sinto muito por isso ter te acontecido;
Eu acredito em você;
Não é sua culpa;
Você não está sozinha/o, estou aqui por você e fico feliz por ter me contado.
Muitas vezes, a/o sobrevivente pode sentir que o que aconteceu foi sua culpa. Nós somos constantemente bombardeados por mitos e atitudes de uma cultura de culpabilização da vítima em nossa sociedade, e a/o sobrevivente pode se afundar profundamente nessas crenças.
Mas absolutamente nenhuma ação justifica alguém ferir outras pessoa. Violência e abuso nunca são culpa da vítima. A responsabilidade e a vergonha pertencem ao abusador/agressor. Pode ser de grande ajuda comunicar isso à sobrevivente, de forma gentil quantas vezes for necessário.
Nada do que você fez ou que poderia ter feito diferente faz disso sua culpa;
A responsabilidade é da pessoa que te agrediu;
Ninguém tem o direito de te ferir;
Não, Você não estava pedindo por isso;
Sei que pode parecer que voce tenha feito algo de errado, mas você NÃO fez;
Não importa de voce fez ou não _________ . Ninguém “pede” para ser ferido dessa maneira.
3- Pergunte o que mais você pode fazer para ajudar
Violência e abuso sao sobre poder e controle. E vital para sobreviventes reconstruir seu senso de autocontrole, autonomia e poder sobre a própria vida. Em vez de pressionar a/o sobrevivente a tomar atitudes para as quais eles ainda nao se sentem prontos, simplesmente pergunte COMO você pode ajudá-la/o.
4- Procure saber onde você pode encaminhar a pessoa para mais apoio necessário
Você pode ajudar muito uma/um sobrevivente oferecendo opções e dando espaço para que ela/ele decida o que fazer a partir dai. Alguns serviços ou locais que voce pode indicar: **delegacias especializadas, hospitais referencias em atendimento a vitimas de violência, Centros regionais de assistência social (CRAS), grupos presenciais e online de apoio a sobreviventes e etc.
5- Mantenha o coração aberto
Lembre a/ao sobrevivente que voce está disponível caso ela/ele queira conversar mais sobre suas experiencias. A jornada de recuperação e cura pode ser longa. Poderão surgir muitas conversas desafiadoras e difíceis nesse caminho — mas também algumas reconfortantes e libertadoras. Pode fazer toda a diferença para uma/um sobrevivente saber que pode contar como voce durante todo esse processo.
6- Por fim, se cuide
Existe um limite para o que você própria/o e capaz de lidar nesse processo. Histórias dos momentos difíceis relacionados a eventos traumáticos de outras pessoas podem nos impactar e se tornar parte de nos. Essa experiencia de vivenciar o trauma do outro e uma resposta humana e comum quando encaramos de frente trauma e as dificuldades de experiências humanas.
E muito importante cuidar de si mesma/o quando você está apoiando outra pessoa. Não conseguimos dar o melhor de nos mesmos, nesse papel de apoio, quando estamos cansados demais para ouvir o outro com cuidado e empatia ou quando nos sentimos sobrecarregados com nossas próprias emoções em resposta ao trauma do outro. Esses sentimentos são validos. Se de um tempo após essas conversas, aproveite para fazer algo ao ar livre ou qualquer atividade que te faca sentir bem e te reconecte com você mesma/o.
Lembre-se, você pode ser melhor para os outros quando você se da espaço para respeitar suas próprias necessidades.
** exemplos meus, baseados em nossa realidade, visto que nesse trecho o texto indica recursos e locais de apoio próprios de seu pais.
Link para o texto original, em ingles: www.joyfulheartfoundation.org/6-steps-to-support-a-survivor
Patricia Castro
“Entusiasta da escrita e da pesquisa e compartilha suas inquietações sobre feminismo, maternidade, e as injustiças tantas que vemos e vivemos em nossa sociedade. Engajada na luta pela erradicação da violência sexual e de gênero. Vc pode contatá-la no e-mail patipsi.rom@gmail.com e perfil Instagram @pati.castrof e Facebook